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Viver é sinônimo de envelhecer

As pessoas têm o costume de “patologizar” a velhice, o velho. Ou seja, associar ou até mesmo categorizar a velhice como doença. Isso ocorre porque a velhice está sempre acompanhada de adjetivos ruins.

A arte de envelhecer não é para qualquer um. Arte? Sim, arte. Viver é sinônimo de envelhecer. Assim, penso que a vida é uma obra-prima. Para que uma obra-prima seja feita é necessário de base, de fundamento. É preciso construir a obra almejada. Para isso, é necessário progredir, lapidar, transformar, amadurecer. Queremos que ela crie a sua forma da maneira como imaginamos. Nem sempre é assim. Nem sempre uma obra fica do jeito que seu autor gostaria.

Envelhecer é isso. Processo de construção, desconstrução e reconstrução. Adaptação. Todos nós estamos no processo de envelhecimento, mas poucos sabem envelhecer, poucos aceitam o envelhecer, poucos olham para o envelhecimento de forma positiva, poucos sabem, inclusive, que envelhecimento e velhice não são a mesma coisa. Muitos temem o envelhecimento por associá-lo a velhice. Mas o envelhecimento está acontecendo, a todo momento, com todos nós. Velhice é apenas uma etapa da vida. Etapa essa que muitos olham e pensam que não há perspectivas. De forma mais rude – mas não mentirosa – pensam que é a sala de espera para a morte.

Eu pensava assim. Era uma pessoa preenchida de estereótipos negativos em relação a velhice. Idoso para mim era a avozinha, de cabelos brancos presos por um coque de rendinha, de óculos, bengala, fazendo crochê e comida aos domingos para os netos, a típica dona Benta do Sítio do Pica Pau Amarelo. Lembram? Pensava que, na velhice, as possibilidades de ação e de querer se esgotavam. Que pensamento preconceituoso o meu.

Quando me formei em técnica de enfermagem, inclusive, pensei em justamente fazer Gerontologia para ajudar e prestar cuidados a essa população, que no meu entendimento, na época, era uma população excluída, pouco vista pela sociedade, frágil e dependente. Um ano depois, estava matriculada no curso de Gerontologia pela Universidade de São Paulo. Deparei-me com um novo mundo, um novo universo, uma nova realidade e outros conceitos acerca da velhice e do envelhecimento.

Minha cosmovisão mudou. A maneira que eu enxergava e interpretava o mundo, as relações humanas e os papéis de cada indivíduo diante da sociedade foi sendo reconstruída. Compreendi que a minha motivação de fazer o curso de Gerontologia foi baseada através dos olhos de uma sociedade que enaltece o jovem; através das minhas relações sociais que enxergam o idoso sendo fragilizado e de uma criação que enxerga o envelhecimento apenas como um declínio.

Há uma parcela da população idosa no Brasil que é carente, fragilizada, dependente e necessita de cuidados sim. Então, nós que trabalhamos com esse público, precisamos entender os desafios que vão surgir por causa desse fenômeno do envelhecimento e nos capacitar ante as demandas existentes e as que ainda estão por vir. Por outro lado, assim como Rifiotis (2007) chama atenção, tratar o idoso como vítima faz dele muito mais um objeto de assistência do que um sujeito social.

Quando se pensa no idoso como sujeito, estamos dando voz a essa população, conscientizando a todos a força e a potência que essa população pode ter. É oferecer mais perspectivas, alternativas e possibilidades a eles. É dar-lhes um futuro! Pensar no idoso como sujeito é tirá-los da posição de seres indesejáveis para seres desejantes. Sujeitos que desejam, que escolhem, que fazem, que buscam, que conquistam, que sonham.

Esse tipo de pensamento causa estranheza. Idosos sujeitos não se enquadram no comportamento que a sociedade espera dos mais velhos. Mas isso também causa questionamentos e reflexão. Essa reflexão é muito pertinente, uma vez que as pessoas têm o costume de “patologizar” a velhice, ou seja, associar ou até mesmo categorizar a velhice como doença, como se as alterações no organismo provenientes do processo de envelhecimento fossem sintomas de uma doença recém descoberta. Isso ocorre porque a velhice está sempre acompanhada de adjetivos ruins.

Quando se pensa na velhice como uma fase de decadência, inutilidade, vulnerabilidade e entre outras nomeações, compreendemos que existe um preconceito social, que foi sendo construído ao longo dos anos e instalado pela nossa sociedade. Exemplo disso, são as diversas classificações para denominar a velhice, como apontam Schneider e Irigaray (2008).

Melhor idade, terceira idade, quarta idade, idade madura, idosos mais velhos, idosos mais jovens e uma infinidade de termos são usados para definir o simples, o básico: a velhice. Percebe-se então a resistência das pessoas em aceitarem o termo velho. Isso ficou muito claro quando abri minha empresa esse ano. A empresa, além de outras atribuições, tem o objetivo de compartilhar conhecimentos acerca do processo do envelhecimento e capacitar cuidadores de idosos.

A experiência que venho tendo se torna visível – muito mais do que nas minhas experiências passadas – o reflexo de uma sociedade construída em cima do preconceito em relação a idade. O discurso que se faz presente dos ouvintes das palestras ou do curso de cuidador de idoso que ministro carrega consigo uma intensa resistência em aceitar o envelhecer, a procura desesperada por interromper esse processo ou a infantilização e diminuição da população idosa.

“Eu amo trabalhar como cuidadora. Trato o meu idoso com muito carinho, feito um bebê”. “Meu pai está dando muito trabalho, bem que dizem que idoso volta a ser criança”. “Que bom que você é gerontóloga, então nos diz a fórmula para não envelhecer mais”. Essas são frases reproduzidas constantemente no meu trabalho. São frases carregadas de estereótipos negativos e que mostram uma distorção absurda da velhice.

Essa resistência pode ser explicada devido as diversas lembranças negativas que a palavra “velho” traz, por exemplo: antigo, desusado, gasto, ultrapassado. Essas palavras trazem o sentido de algo que pode ser descartado. Mas o que precisa ser compreendido é que a palavra “velho” não significa desgaste e, sim, a fase de vida que a pessoa se encontra ou o tanto de anos que a pessoa viveu. O uso de termos utilizados para substituir a palavra “velhice” mascara o preconceito diante da realidade. Entende-se que o preconceito e os estereótipos também estão presentes na nossa linguagem. Então, velho sim.

Estamos acostumados a viver em uma sociedade em que se quer viver muito, mas não se quer envelhecer. Como fazer para alcançar a longevidade sem passar pelo processo de envelhecimento? Não há como. Com o passar dos anos, nós, fisiologicamente, vamos amadurecendo corporalmente e assim chegamos à velhice. Essa fase da vida é marcada por um fator muito comum, levando em consideração que todo ser vivo nasce, cresce, se reproduz e, por fim, falece.

Diante dessa situação, é imprescindível uma compreensão e aceitação do desenvolvimento humano, que nos leva à velhice. Para que o processo de aceitação aconteça é necessário desmistificar os mitos, estereótipos negativos, preconceitos em relação a velhice e, aos poucos, expandir a visão de que esta fase de vida pode ser um momento de novas oportunidades, novas conquistas e novos aprendizados.

Nessa caminhada, também é importante ter atitudes e pensamentos positivos em relação a si e à vida, uma vez também que o preconceito contra a velhice impede o idoso de se relacionar e de participar da sociedade de forma mais ativa e a vitimização contra o mesmo é prejudicial para sua autonomia e independência.

Dessa forma, a sabedoria e a experiência adquirida durante todos os anos podem ser vistas como grandes vantagens dessa fase da vida e, se reconhecidas e potencializadas, podem proporcionar muitos ganhos para si, para familiares, amigos e a sociedade como um todo. A velhice pode ser vista sim como uma boa fase de vida para se viver. Basta nossos olhos não serem rotulados e fechados pelas perdas, mas sim, abertos e otimistas para aquilo que se pode ver, aprender, conquistar, ensinar.

Então, sim, o envelhecer é uma belíssima obra de arte. A velhice, não é o final da obra e, sim, o momento em que as cores ainda podem ser pintadas, cujas curvas podem ser desenhadas e os traços delineados. No final da obra, pode ser que ela não esteja simetricamente do jeitinho que imaginamos, mas poderemos ter paz e satisfação de que construímos uma bela obra de arte. Como queremos desenhar a nossa vida? Como queremos ver nossa obra prima final? Com que olhos a enxergaremos?
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Por Isabela Gianfrancisco – formada em Gerontologia pela Universidade de São Paulo (USP) e Técnica em Enfermagem pelo COTIL (UNICAMP). Atualmente, tenho uma empresa em Rio Claro chamada Vitalle Gestão Gerotológica. Texto escrito baseado nas discussões e debates no curso de extensão “Fragilidades na Velhice: Gerontologia Social e Atendimento”, ministrado pela PUC-SP, no segundo semestre de 2018. Email: isabela_gf@hotmail.com

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